A muito tempo vem sendo discutida questões relacionadas à apropriação de elementos culturais. O constante ataque dos grupos de minoria – que têm seus elementos utilizados –, à aqueles tidos como dominantes, por conta do uso destes acessórios (como o turbante, o filtro dos sonhos, uso de dreads, entre outros) traz a necessidade de uma discussão mais profunda sobre os efeitos e problemas gerados por essa intolerância. É muito comum que, ao visitarmos as áreas de convivência das cidades, vejamos inúmeras mulheres brancas usando turbantes ou faixas no cabelo. Essa prática comum, de usar adereços, é vista, por parte do movimento de resistência negra que luta contra o racismo, com olhares negativos pois eles acreditam ser uma forma de ofensa – um grupo, que foi considerado por muitos anos, superior usando adornos que outrora foram tão negados por eles e serviram para afirmação de uma identidade cultural de outra comunidade (que sempre teve menor acesso aos direitos) sem uma reflexão sobre isso. A exemplo disso, é recente o caso da atriz norte-americana Vanessa Hudgens que postou uma fotografia nas redes sociais usando um filtro dos sonhos – objeto da cultura indígena estadunidense – e foi muito criticada por isso. Entretanto, essa segregação pode levar, infelizmente, a diversos caminhos e um deles é o da discriminação. Ao não permitir a livre escolha da pessoa de usar um adereço da cultura negra por ela ser branca, pode-se criar uma mentalidade racial de que certa peça é de negro, por exemplo, e isso pode caminhar para o tratamento pejorativo de alguns desses objetos visto que nosso país ainda tem uma grande taxa de preconceito racial. Assim, vista a difícil situação da questão da apropriação cultural, medidas são necessárias para evitar o crescimento do preconceito racial e conscientizar os grupos de que não é por utilizar um adereço sem pertencer aquele grupo que aquela pessoa quis depreciá-los ou ofendê-los. O governo deve, portanto, elaborar políticas públicas de incentivo a não segregação de itens mostrando que todos têm a liberdade de usar o que quiser e isso não inferiorizará um grupo em relação ao outro, ao contrário, irá exaltá-lo por estar de certa forma representando e dando apoio a esse movimento. É preciso também que as escolas invistam em aulas interdisciplinares sobre o assunto da apropriação para ensinar aos alunos, desde cedo, a respeitar as outras culturas e reafirmar o que foi dito anteriormente. Só assim poderemos ter uma sociedade em que todos respeitem as escolhas uns dos outros e que entendam que o tratamento diferenciado não pode levar a nada além da discriminação e da diferença de tratamento.