Quando interrogado sobre a diferença entre um homem culto e um inculto, Aristóteles afirmou: “ A mesma diferença existente entre um vivo e um morto”. Pode-se depreender, portanto, que a cultura está para a sociedade assim como o oxigênio está para os pulmões: não é possível viver sem ela. Todavia, existem limites entre os costumes próprios e alheios, provando que gostar de uma determinada tradição não é sinônimo de poder apoderar-se dela. O termo “apropriação cultural” se refere ao ato de uma pessoa branca incorporar a si elementos culturais de minorias étnicas, apropriando-se indiscriminadamente de tais características, sem levar em consideração o significado que tais elementos possuem e a história que contam acerca de um determinado povo. No carnaval de 2017, a cantora brasileira Anitta foi vítima de uma ação judicial após aparecer ao público caracterizada de “negra”: com longas tranças ao estilo rastafári e um bronzeado exagerado. O ocorrido traz à tona uma reflexão sobre a cultura afro, historicamente vista através de um viés pejorativo e que, no entanto, é copiada para a satisfação da indústria da moda ou para dar notoriedade a um determinado artista. Fato tratado por antropólogos como uma agressão às diferentes etnias e tradições, a assimilação de valores alheios pode resultar em processos judiciais por comprometer a ética relacionada à memoria que esses valores carregam consigo, não raro sendo utilizados como símbolo de conquistas milenares, como aquisição de igualdade de direito em relação a outros povos e superação de preconceitos. A questão é que nem todos pensam assim: enquanto um turbante é para uns a essência da cultura africana, para outros, não passa de uma mera indumentária. Outrossim, faz- se indispensável a adoção de medidas protecionistas e restritivas em relação ao patrimônio material e imaterial de cada povo e de cada sociedade. Gostar e admirar determinados costumes é permitido e compõe a individualidade e a liberdade de expressão de cada individuo. Entretanto, pertence a cada núcleo social sua própria historia, e todos os elementos culturais são uma forma de conta-la. A beleza da diversidade devidamente respeitada é o que torna todas as raças unidas por um objetivo em comum: somos iguais porque somos todos diferentes.