Título da redação:

A cultura capitalizada

Tema de redação: A questão da apropriação cultural no Brasil

Redação enviada em 12/09/2017

Ao dizer “apropriação cultural é um problema do sistema, não de indivíduos”, Djamilla Ribeiro, mestre em Filosofia Política, atesta a responsabilidade concernente ao mercado acerca da polêmica questão supracitada. Assim sendo, torna-se evidente a relação entre o uso, para fins meramente mercadológicos, de patrimônios e símbolos étnicos e o consequente sórdido esvaziamento identitário desses. Antes de tudo, em virtude da crescente globalização, elementos antes exclusivos de certos grupos passaram a ser comercializados em larga escala. Tal atitude estimulou grandes empresas a elaborarem campanhas publicitárias polêmicas, como a da loja FARM. Esse estabelecimento representou, em uma de suas coleções de 2014, a Iemanjá – um dos símbolos da crença candomblecista – por meio de roupas típicas vestidas em uma modelo branca. Consequentemente, essa conduta indevida suscitou intensos debates, nos quais fez-se presente a oposição entre empresários e grupos praticantes da religião africana citada. Como resultado da disseminação mencionada acima, esses objetos acabaram por perder seu significado original, transformando-se em meros adornos. Isso começa a ser visto na atitude de algumas mulheres brancas que passaram a usar o turbante como um chapéu, ignorando a origem do primeiro e sua importância para a luta contra o racismo no Brasil. É o caso de Thauane Cordeiro, então careca por estar fazendo quimioterapia, que foi abordada por mulheres negras na estação de ônibus em Curitiba por ser branca e estar de turbante. Acontecidos como esse suscitam intensos debates sobre os limites entre a preservação de símbolos culturais e a utilização deles para fins estéticos. Pode-se perceber, portanto, que o sistema capitalista promove a banalização de objetos e tradições culturais. Com o intuito de minimizar tal vulgarização, é dever da mídia fomentar movimentos e passeatas, bem como elaborar programas televisivos que retratem a diversidade étnica brasileira. Ademais, é crucial o engajamento das escolas, por meio da abordagem de questões culturais em feiras de conhecimento, a fim de trabalhar juntamente à família na formação da identidade da criança. Quem sabe, assim, seja possível proporcionar a devolução do significado a símbolos e patrimônios pertencentes aos miscigenados povos brasileiros.