Título da redação:

Até quando Brasil colônia?

Tema de redação: A Persistência do racismo na sociedade brasileira contemporânea

Redação enviada em 05/05/2016

Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o mito da democracia racial ecoa no ideário coletivo, o qual insiste em não enxergar a linha tênue que segrega etnias e se torna mais visível quanto mais distinta é a cor da pele. Diante disso, não apenas o preconceito exteriorizado, mas também o quase invisível reflete uma sociedade que, apesar de moderna, permanece imersa por um caráter arcaico e separatista. Com isso, surge a problemática do racismo dessa lógica excludente, que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, pela lenta mudança de mentalidade social. É importante salientar que a abolição da escravidão no Brasil, além de tardia, se deu em um período determinista em que prevaleciam teorias como o darwinismo social, o qual defendia a superioridade do homem branco. Nesse sentido, a Lei Áurea propiciou aos negros a equidade de direitos, mas não a igualdade de condições. De maneira análoga, é possível perceber a permanência dessa conjuntura nos tempos vigentes, uma vez que, apesar de representarem 54% da população, o segmento afro-brasileiro é minoria nos demais setores, por exemplo, no ensino superior ou no mercado de trabalho regular. Em consequência, existe uma disparidade étnica no Brasil, devido, principalmente, à falta de representatividade dessas camadas nos ambientes sociopolíticos e à insuficiência de medidas de integração. Desse modo, ainda é preciso um maior esforço para que a Constituição não seja apenas uma carta magna obsoleta e sem leitura prática. Outrossim, Friedrich Hegel, filósofo alemão, defendia que a realidade muda quando o pensamento das pessoas se transforma, sendo este condicionante de mudanças. Logo, por meio da dialética hegeliana, constata-se o cerne do preconceito no país: a mentalidade coletiva. Prova disso está no fato de que a maioria dos brasileiros não se considera intolerante, por mais que, muitas vezes, associe a figura do negro ao crime ou até mesmo não se escandalize com a ridicularização desta em hábitos culturais, como piadas e filmes sensacionalistas. Seguindo essa linha de pensamento, deduz-se que se um indivíduo convive em um ambiente de intolerância, tende a adotar esse comportamento por conta da vivência em grupo, principalmente, na infância. Essa é a opressão simbólica da qual trata o sociólogo Pierre Bordideu: a violação dos Direitos Humanos não consiste somente nos atos deliberados de discriminação, ela está, sobretudo, no ato de perpetuar preconceitos que atentam contra a dignidade de um grupo social. Entende-se que o legado da escravidão no Brasil foi, portanto, a marginalização do negro, que obteve direitos jurídicos, mas não a igualdade substantiva, fruto da insuficiência da lei e do racismo como intenso fato social. Por isso, o Governo Federal, aliado ao Centro de Direitos Humanos, deve viabilizar novos centros de apoio a vítimas nesse gênero de crime e proporcionar plataformas online de denúncia, para que a sociedade civil colabore delatando de forma segura e rápida. Ademais, urge ao Terceiro Setor, junto a escolas e famílias, o papel de reverter o pensamento segregacionista permanente, por meio de oficinas e fóruns de discussão periódica, com o intuito de discutir a integração popular e a herança afrodescendente nacional, formando jovens, pais e professores mais tolerantes e diminuindo o racismo velado. Conforme analisa o sociólogo brasileiro Caio Prado Junior, o caráter colonial permanece intrínseco à realidade do país, todavia, até quando?