A Declaração Universal dos Direitos Humanos, formulada pela ONU após vir a público os horrores da Segunda Guerra Mundial, afirma que todos os indivíduos - independente de gênero, classe social e religião - têm garantia à segurança. Na terra tupiniquim, entretanto, nota-se um profundo desrespeito ao artigo instituído ao tratar-se da questão da violência contra a mulher. Em primeira análise, é importante relacionar o estereótipo da figura feminina e a questão da violência, sendo esse uma construção social formada desde a Idade Média, período de quase mil anos, em que os tabus impostos eram regra na vida tão desvalorizada e objetificada das mulheres. Já na Revolução Industrial, ainda que tenham conquistado o direito ao trabalho, seguiam ganhando menor salário quando comparado aos homens, baseado na absurda tese de que eram biologicamente piores, sendo essa, facilmente desfundamentada por, por exemplo, o fato de ter sido Cleópatra a liderar o Egito Antigo ao seu auge. Visto isso, é importante compreender que a violência contra a mulher é gerada, principalmente, pela errônea construção milenar do papel da mulher como fraca e menos capaz, provocando a reação de posse e superioridade em parte dos homens, que acreditam terem direitos tanto sobre as decisões da mulher, quanto sobre sua integridade física, configurando uma gravíssima afronta aos ideais da Declaração. Além disso, pode-se citar a ineficiência judiciária e policial como fator para a persistência desta violência, analisando que, muitas vezes, as populares "medidas protetivas" não desempenham sua fundamental função e são tratadas como um mero documento de papel pelos agressores. Na área policial também há déficit ao tratar-se desta questão, como pôde ser observado no trágico Caso Eloá - no qual a jovem Eloá foi mantida em cativeiro por quatro dias e morta por seu ex-companheiro - que chocou e permaneceu na memória dos brasileiros há quase dez anos. Para que os ideais da Declaração Universal dos Direitos Humanos não sejam uma mera proposição teórica, mas uma medida concreta, portanto, a mídia brasileira, como maior veículo de informações, deve promover a quebra do estereótipo de fragilidade e dependência feminina através de séries e filmes com protagonistas fortes e determinadas. Além, o Judiciário brasileiro deve estabelecer mais rigor nas penas para crimes contra a mulher por meio do aperfeiçoamento da já existente Lei Maria da Penha. Espera-se, com as propostas apresentadas, respeitar os artigos instituídos pela Declaração e combater não somente os frutos podres da violência contra a mulher, como também suas raízes.