“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”. Com essa frase, o escritor Luis Fernando Veríssimo alude a um dos problemas mais preocupantes para o cenário político brasileiro: as notícias falsas. Em alta principalmente nos períodos eleitorais, as “fake news” são responsáveis pela distorção de informações a favor de determinados candidatos, e encontram tanto uma sociedade e um Estado propícios à sua manutenção. Em primeira análise, vale ressaltar que o baixo desenvolvimento da criticidade cidadã observado na sociedade acentua a influência das notícias falsas e de suas consequências. Assistindo a um noticiário, lendo um jornal ou compartilhando algo nas redes sociais, as pessoas, movidas pelo mecanicismo característico do modo de vida capitalista, não realizam reflexão sobre o conteúdo diante de suas mãos, absorvendo informações duvidosas e, como numa epidemia, espalhando-as para outros indivíduos. Aproveitando-se dessa desinformação e dessa ignorância, políticos e organizações partidárias manipulam fatos a favor de si por meio de publicações falaciosas, facilmente internalizadas pelo eleitorado. Assim, nota-se o porquê da alta incidência das notícias falsas. Outrossim, a negligência e o descaso do Estado com essa problemática acarretam maiores consequências para a política nacional. Dispondo de uma legislação muito fraca na fiscalização efetiva de veículos de comunicação em massa, sejam redes sociais ou a imprensa, a postura estatal acaba permitindo a potencialização da desinformação. Observou-se isso, por exemplo, na difamação contra a vereadora fluminense Marielle Franco, a que se imputaram várias acusações falsas, mas que foram tomadas como verdadeiras pelos brasileiros durante muito tempo, sem que houvesse mobilização oficial do Governo a respeito disso. Desse modo, o Estado se faz uma figura essencial diante de tal cenário. Portanto, urgem medidas conjuntas entre Estado e instituições de ensino superior para a resolução dessa problemática. Em parceria com o Ministério da Educação, as instituições de ensino superior nacionais devem promover palestras públicas que esclareçam a sociedade sobre as notícias falsas e promovam medidas conscientizadoras. Além disso, é dever do Poder Público fiscalizar mais rigorosamente o conteúdo informativo propagado pelas mídias, por meio da aprovação e criação de leis específicas para essa situação, além de exigir representação legal de donos desses veículos que se omitirem diante das notícias falsas. Somente assim, poder-se-á afastar eventuais riscos à representatividade brasileira e mudar a realidade resumida pela frase de Luís Fernando Veríssimo.