Os anarquistas da Década de 50 consideravam o domínio de determinado homem sob outro um grande mal social e defendiam a existência de relações harmoniosas entre ambos. Por outro lado, ao levar em conta o cenário atual brasileiro, nota-se a persistência de raízes escravocratas no setor empregatício que continuam a denegrir a dignidade humana. Dessa maneira, torna-se evidente a necessidade de intervenções multissetoriais e resilientes as quais possam, eficazmente, erradicar situações análogas à escravidão. Para o economista iluminista do século XVIII, Adam Smith, a riqueza de uma nação está intimamente associada ao trabalho. De certa forma, a concepção de Smith revela-se verdadeira, uma vez que o mercado trabalhista move a economia de um país, proporcionando investimentos estruturais e melhorando as condições de vida da população. Todavia, ao submeter o trabalhador a jornadas exaustivas de trabalho, além de mantê-lo submisso a uma alimentação limitada e deficiente em nutrientes e vitaminas, ocorre a inversão dos fatos, sendo que, conforme informações da revista Época, a mão de obra análoga à escravidão não é caracterizada por meras infrações trabalhistas, ela é um crime contra a dignidade humana, o que gera retrocessos econômicos ao país cometedor desses atos bárbaros. Como se não bastasse, embora o governo Temer tenha aprovado uma portaria referente ao trabalho escravo, o número de casos aumentou e os investimentos contra esse crime ilógico foram reduzidos devido às políticas de corte de gastos públicos. Sendo assim, de acordo com a Secretaria de Inspeção do Trabalho, $22,2 milhões de reais foram cortados para conter as despesas do governo o que ressalta o total descaso do país com essa problemática. Sob o mesmo ponto de vista, recentemente, um empresário de São Paulo fora preso em flagrante por manter imigrantes submetidos analogamente à escravidão, sendo que o veículo midiático responsável pela notícia, o telejornal Band News, notificou as condições lastimáveis de higiene e alimentação com as quais os indivíduos tinham de conviver. De fato, é inadmissível a existência de situações como essa que merecem total direcionamento de investimentos públicos a fim de impossibilitar a disseminação dos casos e promover a investigação dos que ainda encontram-se na obscuridade. Destarte, práticas escravistas continuam enraizadas na sociedade sob diferentes faces e apontam a crucialidade de interferências público-privadas, visando eliminar essa barbárie que acomete tantas vidas. Por conta disso, o Governo Federal, em ação conjunta ao Ministério Público, deve direcionar maiores investimentos no setor de investigação e combate à escravidão moderna, submetendo o criminoso à prisão em flagrante, sob pena e multa pré estabelecidas, tendo o intuito de localizar, com precisão, os autores dessa prática e, especialmente, impedir o surgimento de novos casos. Outrossim, o Congresso Nacional deve reavaliar a recente aprovação da portaria, incluindo distintas cláusulas para expandir o conceito de trabalho escravo, como submissão a situações degradantes de higiene e alimentação, salário desproporcional ao tempo trabalhado, entre outras que consigam desestruturar esse cenário terrível de abuso. Somente ao exterminar a escravidão, o Brasil poderá enquadrar-se nas incríveis concepções iluministas, valorizando a força de trabalho e a dignidade do seu povo.