John Locke, filósofo inglês, afirmou que todos os homens nascem com a mente equiparada a uma “folha em branco”. Essa epistemologia lockeana desenvolveu a defesa do direito à educação universal, afinal, tendo os seres humanos nascidos do mesmo modo, nada justificaria a restrita propagação do conhecimento. Não obstante, o interesse capitalista vigente no Brasil suprime a necessidade de uma difusão educacional financeira, impondo na “folha em branco” humana o consumismo desenfreado e o despreparo para lidar com questões orçamentárias. Esse interesse capitalista é refletido pelo Estado, pois este, emparelhado pelo capital, rasga a sua função social, exigida pela Constituição de 1988, incentivando a tomada de crédito bancário e de empréstimos desnecessários. Políticas, maquiadas de forma a aparentar indução ao acesso a bens de consumo, ineficazes e desprovidas de uma preocupação com o cidadão consumidor tornam a população brasileira refém de um sistema financeiro cruel, interessado na deficiente educação orçamentária do povo. Com isso, o elevado número de pessoas endividadas mantém o ciclo vicioso de compras, empréstimos e juros abusivos, além de corroborar o quão falho é o processo de conscientização financeira no Brasil. Aliado a isso, sem aulas de educação monetária e com o governo alheio à situação da população, os adultos do futuro são constantemente bombardeados pela “indústria cultural” teorizada pelo filósofo alemão, Theodore Adorno. Para ele, na sociedade capitalista, a cultura se transformou em um meio de impor o consumo e o gasto ilimitado, utilizando-se da arte, da mídia e de propagandas persuasivas para tornar o ato de comprar em uma necessidade quase que fisiológica, modelando, assim, as crianças e os jovens de hoje em adultos compulsivos e mal-educados financeiramente. Portanto, transformar a educação microeconômica da população brasileira é extremamente necessário para modificar a realidade social do Brasil. Sendo assim, o Congresso Nacional deve alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tornando obrigatória a ministração de aulas de orçamento doméstico, de economia e de administração. Como também, uma regulação rigorosa feita por conselhos formados por pedagogos, psicólogos e publicitários precisa impedir a propagação de campanhas midiáticas que incentivam o consumo exacerbado direcionadas ao público infanto-juvenil. Dessa forma, a “folha em branco”, que para Locke representa a mente humana, seria preenchida com noções de consumo sustentável e de controle orçamentário, não mais coadunada à desprezível visão consumista partilhada pelo interesse capitalista.