'' E uma elite sem Deus é quem domina, que permite um estupro em cada esquina. E massacram-se o negro e a mulher, pode ser o país de quem quiser, mas não é, com certeza, o meu país. '' A música Meu País, de Zé Ramalho, traz como base os problemas enfrentados pela sociedade e, dentre esses, encontra-se a cultura de estupro no Brasil. Ainda este ano, Rio de Janeiro e Piauí ganharam grande repercussão na mídia e nas redes sociais pelos vários casos de estupro, principalmente os realizados coletivamente. A noção vigente de masculinidade, além da pouca frequência de denúncias resulta em um crime frequente na comunidade. A ideologia patriarcal está presente ao longo do processo de formação do Estado brasileiro e é a raiz da cultura de violência contra a mulher. No período colonial, o homem, considerado chefe da família, tinha posse integral sobre sua cônjuge, subjugando-a, seja na esfera social ou pessoal. Assim, a desigualdade de direitos entre homens e mulheres era afirmada nos códigos civis e penais durante a Colônia, o Império e a República; e mesmo hoje, com a atual Constituição garantindo a igualdade de gênero, a desigualdade ainda persiste. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ocorre 1 estupro a cada 11 minutos no país; os homens não consideram suas ações como um crime hediondo, já que enxergam na sua vítima uma aceitação que, na verdade, não existe. Ao final, negam a palavra das mulheres e as tomam como posse. Diante de tais atos, as vítimas se envergonham e não denunciam os estupradores, que, aliás, não se sentem intimidados. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a cada ano são registrados pela polícia cerca de 50 mil casos; porém, existe a estimativa que esse número possa chegar a 500 mil. Atualmente, as redes sociais ainda podem ajudar a agravar a situação, já que são meios de postagens de vídeos e imagens e com isso, as mulheres passam por transtornos, incluindo depressão, fobias, ansiedade, abuso de drogas ilícitas, tentativas de suicídio e se sentem incapazes de enfrentar a situação. Com base no que foi exposto sobre as possíveis causas de números alarmantes de casos de estupro no Brasil, fica claro que os homens ainda perpetuam a ideologia patriarcal e que o medo está presente no dia a dia das vítimas. É importante salientar que o Senado aprovou no dia 31 de maio um projeto de lei que prevê pena mais rigorosa para o crime de estupro praticado por duas ou mais pessoas, aumentando a pena de 6 a 10 anos para 25 anos. Em relação às mulheres que foram violentadas, o direito ao atendimento psicológico, contracepção de emergência para evitar uma gravidez indesejada e profilaxia para DSTs é fundamental. Com isso, o Estado tem a obrigação de supervisionar essas leis e aplicá-las na sociedade, garantindo a segurança das mulheres.