Título da redação:

Cultura do estupro: a hipertensão arterial brasileira

Tema de redação: A cultura de estupro no Brasil

Redação enviada em 27/06/2016

O mundo contemporâneo é berço de diversas doenças sociais. Uma delas, a chamada cultura do estupro, se faz presente em vários lugares no mundo, inclusive no Brasil. Tal mazela é mantida no país por uma acomodação social generalizada que possui mecanismos próprios de manutenção silenciosa. Os primeiros mecanismos são o medo e a impunidade. Muitas vítimas de violência sexual não levantam denúncias contra seus agressores por temerem represálias ou por não crerem que eles serão de fato punidos. Em casos como esse, o silêncio é sempre a pior das opções. Grandes revoluções, como a luta por direitos civis de negros nos Estados Unidos, só aconteceram após o grito daqueles que outrora sofreram calados. Neste sentido, é crucial que as próprias mulheres (junto a suas famílias) busquem ajuda dos órgãos competentes. Entretanto, tais ações esbarram em outro fator: a péssima logística de atendimento às agredidas. Delegacias sem setores específicos, profissionais machistas e despreparados, bem como a dificuldade em provar o crime fazem com que essa doença permaneça silenciosa e letal como uma hipertensão. Esse processo, por sua vez, é retroalimentado. Sem estrutura, os órgãos brasileiros não "atraem" vítimas fragilizadas, que por sua vez se calam diante da situação. O Estado deve, portanto, criar políticas públicas de preparo a agentes de justiça (policiais, juízes, etc.). Então, para que esse ciclo seja interrompido, o terceiro setor (composto por organizações que visam o bem-estar social) pode auxiliar as instituições públicas no amparo às mulheres, criando espaços de acolhimento e grupos de suporte psicológico com profissionais especialistas na área. Cabe à mídia, em parceria com a escolas, a criação de campanhas educativas que busquem eliminar a longo prazo o machismo do arquétipo social do país. O público-alvo deve ser composto majoritariamente por crianças e adolescentes, para que o "sistema cardiovascular" da nação venha a funcionar com saúde nas décadas a seguir.