Título da redação:

Cultura de estupro - aprenda a ser estuprada

Tema de redação: A cultura de estupro no Brasil

Redação enviada em 11/08/2016

O termo “cultura do estupro” surgiu em 1970, designado para apontar comportamentos sutis ou explícitos, estes que silenciam e relativizam a violência sexual contra a mulher. O ideal machista é claramente distinguível na mídia, a qual objetifica as mulheres e as retrata como seres cuja única finalidade é a satisfação sexual. O erro da sociedade, ao aceitar a cultura do estupro, é permitir que isso ensine as pessoas a não serem estupradas – questionando o tipo de roupa, o comportamento, a hora para sair - ao invés de ensinar a não estuprar. Os comportamentos decorrentes da cultura do estupro resultam de uma sociedade constituída sob base patriarcal. Esse modelo que sustentou a família brasileira, e até hoje é encontrado no país, principalmente na região Nordeste, formou imagens de mulheres submissas, sem direitos ou opiniões, contribuindo, inclusive, para que muitas criassem sobre si um estigma machista, que recrimina o uso de roupas curtas, o sexo antes do casamento, a iniciativa feminina em relacionamentos, chegando ao ápice de, muitas vezes, culpabilizarem a si mesmas ao sofrer alguma violência. Além de patriarcal, a sociedade brasileira é racista e capitalista. Essas três dimensões de dominação e opressão permitem que as mulheres sejam coisificadas e mercantilizadas pela mídia, que tem sido peça chave na perpetuação da cultura do estupro – fato exemplificado pelo caso de estupro coletivo de uma menor no Rio de Janeiro, divulgado por um de seus agressores na internet. Para agravar ainda mais o cenário, o silêncio é um dos principais artifícios da cultura do estupro e, quando falha, o agressor ataca a credibilidade de sua vítima, certificando-se de que ninguém lhe dê ouvidos ou acredite em sua história. Outro fator importante, segundo a especialista no tema, Izabel Solyszko, é o fato da sexualidade dos homens ser aflorada de maneira violenta desde a infância pelos pais, o que impede que, no futuro, esses homens enxerguem a violência sexual em suas variadas esferas – cantada, assédio, toque, estupro – como algo bárbaro e brutal, uma verdadeira invasão. Contudo, dados da Central de Atendimento à Mulher mostram que, apesar da violência ter se intensificado, as mulheres têm procurado cada vez mais as autoridades para denunciar seus agressores, fato essencial no combate a essa triste realidade. O Brasil tem a frente um extenso processo de mudanças para que a cultura do estupro deixe de ser um aspecto modelador da sociedade no país. Para isso, o Governo deve, junto a ONGs, usar a mídia de modo reverso - criando campanhas que valorizem a mulher, incentivem a denúncia e, até mesmo, o desenvolvimento de um aplicativo o qual possibilite que a vítima peça socorro para pessoas cadastradas e residentes na área da provável violência pelo celular. É válida também a aprovação de leis mais severas para esses casos, a construção de políticas que ofereçam acompanhamento psicológico às vítimas e, ainda, a abordagem nas escolas sobre sexualidade.