Título da redação:

Corpo dela, regras dela.

Tema de redação: A cultura de estupro no Brasil

Redação enviada em 17/06/2016

A cultura do estrupo é um fenômeno social em que a violência sexual contra mulheres é considerada normal pela mídia e pelos demais segmentos sociais. No Brasil, o recente caso da jovem que foi vítima de estupro coletivo desencadeou discussões acerca do tema, suscitando importantes questões, como a passividade da maioria da sociedade diante desse problema e a insensatez de muitos indivíduos em culpar a vítima pela violência sofrida. A reincidência desse fenômeno social, que se repete, infelizmente, em diversos outros países, deixa clara a necessidade de mudanças morais na sociedade. Inicialmente, percebe-se que a sociedade, predominantemente patriarcal, não superou a noção de que a mulher é um objeto, apesar das conquistas dos movimentos feministas. Baseados nesse conceito, muitos agressores consideram ser seu direito desprezar a vontade feminina e violar a dignidade sexual das vítimas. Mais grave, muitas pessoas, mesmo não sendo agressores, perpetuam os atos de abuso, seja fazendo piada sobre o assunto, seja compartilhando mídias que objetificam a figura feminina nas redes sociais, por exemplo. Ademais, essa situação constrange parte das vítimas, as quais, por pressão familiar ou por vergonha, entre outros motivos, preferem não denunciar os abusos sofridos. Exemplo disso foi a recente campanha nas redes sociais que incentivou mulheres a partilharem histórias de constrangimento ou de abuso sexual. O mais chocante desses depoimentos foi que a maioria deles retratou casos que ocorreram ainda na adolescência e que não foram denunciados, o que comprova a opressão sofrida por mulheres, desde cedo, devido à cultura do estupro. Além disso, é possível notar que, em vez de serem tomadas ações com o fito de dirimir os problemas causados pela cultura do estupro, muitas pessoas preferem discutir sobre a culpa da vítima. Por causa disso, assuntos pessoais, como a vida sexual dela, são publicizados, pois diversos indivíduos têm o errôneo pensamento de que a liberdade sexual de uma mulher é justificativa para assédios. Cumpre ressaltar que as roupas, o estilo de cabelo ou as companhias de uma mulher não justificam ataques à dignidade sexual dela, que podem ir desde "cantadas" ofensivas à violência sexual. É necessário, portanto, que, diferentemente do que está ocorrendo no Brasil, os esforços coletivos sejam voltados ao combate a essa infeliz cultura, e não ao ensino para as mulheres de formas a fim de evitar que isso ocorra a elas. Ante o exposto, com o escopo de diminuir o impacto da cultura do estupro na sociedade, é necessário que escolas promovam palestras com pais e alunos sobre a igualdade de gênero e a importância da mulher para a sociedade, convidando figuras femininas de destaque local como oradoras. Por sua vez, o Ministério Público Federal deve realizar pesquisa com parcela da sociedade sobre a liberdade sexual e o comportamento feminino, preparando campanha pública de conscientização contra a cultura do estupro usando como base os dados coletados. Por fim, os governos estaduais devem ofertar curso para os profissionais de segurança pública e de saúde a fim de sensibilizá-los a melhor lidar com as vítimas de crimes sexuais por eles atendidas.