Título da redação:

Brasil: um país com sede

Tema de redação: A crise hídrica brasileira: sustentabilidade da sociedade e da gestão pública.

Redação enviada em 20/10/2016

A falta de água sempre fez parte da realidade brasileira nordestina, sendo, até mesmo, inspiração para canções como “Asa Branca” de Luiz Gonzaga. Contudo, em 2015, a cidade de São Paulo se deparou com uma escassez significativa que trouxe um alerta maior sobre a crise hídrica no país. Dentro disso, por um lado, temos a questão da não sustentabilidade da sociedade, enquanto que, em contraponto, destaca-se a má gestão pública de recursos naturais. O brasileiro é iludido com o “cartão postal” do Brasil. Ele, acostumado a se referir ao país pela diversidade e riqueza ambiental, se adaptou a ideia de que a falta de algum recurso natural é exclusividade do nordeste, sem riscos de se difundir pelo território nacional. Ou seja, é um cidadão sem consciência, criado na abundância, que deixa a mangueira aberta ao lavar o carro, não tendo noção dos impactos dos seus atos. Atrelada a essa visão deturpada, quando a crise hídrica teve seu ápice em São Paulo, outro comportamento foi notado: o paulista economizou água apenas no pico da necessidade, quando essa era a única opção, voltando ao ritmo de desperdício quando a crise se amenizou. Assim, segundo a Carta Capital, quando as chuvas vieram, 19% dos consumidores aumentaram seu consumo, acreditando que o problema estava automaticamente resolvido. A má gestão pública, por outro lado, é um dos principais fatores que aceleram a falta de água e a tornam indisponível. Segundo a relatora das questões da água da Organização das Nações Unidas (ONU), Catarina Albuquerque, em entrevista para a Folha, a seca relacionada à perda de água na reserva da Cantareira era previsível e cabia ao governador vigente (Geraldo Alckmin) controlá-la. Porém, não foi o que aconteceu. Em sua gestão, o problema foi ignorado até precisar ser remediado, em vez de evitado. Esse costume de optar pela “remediação”, infelizmente, não é exclusivo do estado paulista, sendo visto, também, na falta de investimentos na distribuição de água pelo Nordeste e por regiões interioranas de todo o país, além das famosas “favelas”, que, além de ter um acesso ruim à água, ainda sofrem com a falta de saneamento básico. A realidade é que uma considerável parte da água é perdida antes da coleta (rios e lençóis freáticos poluídos), durante a distribuição (encanamento antigo ou danificado), com o desperdício e, para completar, na ausência de sistemas que a reciclem. O Brasil é um país com sede. Ao longo do seu vasto território, é comum encontrar regiões sem acesso à água potável, sendo um problema de caráter estrutural, divergindo da ideia “emergencial” que algumas pessoas defendem. Destarte, para amenizar a questão, é preciso que o país leve a temática a sério. Para começar, o Governo Federal, na esfera Legislativa, deve criar leis que punam o desperdício, como, por exemplo, multas nas quais valores acima de 200 reais tenham acréscimo de 10% na cobrança final. O valor obtido com essas multas deve ser, por conseguinte, aplicado em reformas estruturais, como a substituição e ampliação de encanamentos, sendo responsabilidade do Poder Executivo decidir as regiões brasileiras mais necessitadas de tais reformas. Assim, é possível mudar o comportamento da população e garantir que as obras necessárias ocorram.