Tema de redação: A crescente crise da mobilidade urbana brasileira
Redação enviada em 10/09/2016
Como já prezava o proeminente dramaturgo alemão Bertolt Brecht: " Nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de se mudar. ". Sob essa ótica, no que tange a contemporaneidade, o crescente número de veículos automotores no trânsito brasileiro agrava exponencialmente a crise da mobilidade urbana no país, o que torna os congestionamentos corriqueiros e cada vez mais extenuantes. Dessa forma, compreender as raízes e os meandros dessa problemática urge como uma intensa necessidade social que possui o obsoleto sistema de transporte público e as facilitações do crediário como seus canalizadores. Em uma primeira análise, o cenário de caos no deslocamento urbano é fomentado pela ineficiência do transporte público nacional. A fundamentação argumentativa dessa correlação explica-se devido ao fato de que os quantitativos das malhas de ônibus e trens no Brasil não comportam nem se quer a metade do número absoluto de cidadãos residentes no país. Nessa perspectiva, em artigo publicado na revista Le Mond Diplomatique Brasil, o engenheiro de tráfego Elias Monsanto aponta que 87,4% dos brasileiros que utilizam o transporte coletivo diariamente enfrentam e sofrem com a super lotação. Dessa maneira, o produto dessa vinculação materializa-se num enorme contingente de pessoas que preferem se deslocar pelos centros urbanos utilizando-se de seus veículos particulares. Outrossim, em um segundo plano, o estímulo incessante à compra de carros, em semelhante proporção, fomenta o contexto de crise móbil no país. Essa premissa alicerça-se nas incisivas propagandas que recorrem aos financiamentos a longo prazo e facilitação de crédito na aquisição de novos veículos. Nesse sentido, no mesmo artigo, Monsanto afirmou ainda que houve no Brasil um aumento percentual de 68% na compra de carros nos últimos cinco anos. Desse modo, a imprescindibilidade da superação dessa panorama surge como um desafio da pós-modernidade. O grave quadro de mobilidade urbana, portanto, tem como vetores o obsoleto transporte público nacional, em paralelo ao exacerbado estímulo a aquisição de novos veículos. Dessa forma, a sociedade civil ao reconhecer seu papel de protagonista político deve pressionar — por meio de manifestações — as instâncias legislativas visando reivindicar uma melhor estrutura inerente ao transporte público no país, com mais ônibus e trens ofertados à população e com menores intervalos entre suas paradas periódicas. Faz-se necessário, ainda, que — com a observância fiscal de controladorias vinculadas ao judiciário — o Estado estipule regras normativas com o intuito de regular e dificultar a compra de veículos, pois os automotores agravam a crise de mobilidade urbana além de corroborarem com os impactos ambientais. Desse modo, desconstruiria-se a concepção de natural já formulada por Brecht e efetivariam-se medidas harmônicas em prol do bom convívio.