Aldous Huxley, em ‘’Admirável mundo novo’’, relata um futuro distópico no qual os indivíduos vivem em uma sociedade marcadamente científica e tecnológica. Nesse cenário, as pessoas se locomovem, principalmente, por meio de aeronaves e o trânsito como se conhece hoje praticamente inexiste. Huxley não explicou, no entanto, como a sociedade contemporânea migraria para esse tipo de trânsito e não previu, inclusive, que os indivíduos anteriores ao mundo ‘’pré-fordista’’ sofreriam para se deslocarem. Nesse contexto, é necessário compreender quais causas impedem a fluidez do trânsito atual para atenuá-las. A princípio, o aumento do número de carros nas ruas é a causa matriz do problema. Segundo estudo realizado pelo Observatório das Metrópoles, nos últimos anos o número de carros cresceu cerca de doze vezes mais que a própria população brasileira. Esse aumento significativo pode ser explicado pela redução fiscal que o Governo Federal cedeu às montadoras aliada à facilidade de crédito dada à população. Nesse contexto, o número ascendente de carros representa um grave problema, já que a maior parte das cidades do Brasil não acompanhou esse crescimento e, portanto, não é dotada de uma infraestrutura capaz de gerir esse fluxo de automóveis. Nesse sentido, o transporte público seria uma alternativa eficaz e resolveria parte do dilema. Entretanto, esse tipo de locomoção enfrenta sérias dificuldades no que concerne à superlotação, atrasos e segurança- impedindo, consequentemente, a permanência dos seus usuários. Nesse viés, as bicicletas se expõem como uma solução limpa e quase imediata para a problemática. Em algumas cidades brasileiras, como Curitiba, por exemplo, o número de ciclovias e ciclofaixas aumenta exponencialmente. As ''magrelas'' (como são popularmente conhecidas) vêm tomando o cenário dessas cidades. Contudo, esse tipo de transporte ainda enfrenta dificuldades para ser implementado em outras localidades brasileiras, no que diz respeito, principalmente, à falta de planejamento urbano e à ausência de políticas que favoreçam sua existência. Nesse sentido, cabe ao setor de planejamento de cada cidade repensar ruas e avenidas priorizando o uso de bicicletas. Para tanto, é necessária a criação de novas ciclovias e ciclofaixas nas cidades, aumentando, assim, o número de adeptos. Ademais, o Governo Federal deve conceder benefícios fiscais às empresas que produzem bicicletas (tal como foi feito com as montadoras de carros) de modo que o custo das ‘’magrelas’’ diminua e o seu acesso à população seja maior. Por fim, a gestão de cada município deve realizar a manutenção do transporte público, investindo em segurança e fiscalização. Desse modo, como em Admirável Mundo Novo, a sociedade será conhecedora de um trânsito melhor.