Título da redação:

À bordo da evolução - Utopia ou realidade?

Tema de redação: A crescente crise da mobilidade urbana brasileira

Redação enviada em 01/11/2016

Em “20000 Léguas Submarinas”, Júlio Verne vislumbrou, há mais de 100 anos, uma sociedade moderna, tecnológica e mergulhada na evolução e otimismo. Na pós-modernidade, parte da imaterialidade projetada pelo escritor se consubstanciou, mas ainda mantém aspectos anacrônicos a uma comunidade moderna – Destaca-se a ineficiência na gestão estatal e na proveniência de recursos básicos ao cidadão, como um sistema de locomoção eficaz. Apesar de esforços nesse sentido, com a criação das linhas de BRT e do aumento da malha viária de metrô, o sucateamento da frota e a quantidade insuficiente de veículos configuram um panorama de crise locomotiva. Em primeiro plano, sob a ótica sociopolítica, a falta de investimentos no transporte público está intrinsecamente relacionada à superlotação e, consequentemente, ao seu péssimo estado de conservação, uma vez que a frota disponível não supre a demanda populacional. Analogamente, a problemática contribui para a intensificação do tráfego nas ruas, haja vista que a preferência pelo transporte individual se perfaz com base na falta de estrutura do coletivo. Desta forma, a superação da crise de mobilidade urbana configura-se como importante desafio político e deve ser tratado como prioridade dentre outras pautas. Em paralelo, as dificuldades de locomoção refletem no rendimento do trabalhador e em sua saúde psicológica, devido às longas distâncias que devem ser percorridas da periferia da cidade aos centros de concentração comercial e empresarial. De acordo com a renomada bióloga e pesquisadora Mércia Soares, em estudo na revista Science, em torno de 70% dos trabalhadores que vivem longe do seu local de trabalho sofrem de estresse e demonstram cansaço no emprego. No entanto, como Bertold Brecht escrevera com tamanha sensibilidade, nada deve ser impossível de ser transformado. O deficiente modelo locomotivo e a negligência quanto a seu aprimoramento são, portanto, causas empíricas da atual conjuntura estrutural de deslocamento. Para que tal panorama seja desconstruído, é necessário que representantes do executivo e legislativo trabalhem em conjunto, em prol da liberação de verbas para investimentos no setor, de modo que haja decência e eficácia no serviço oferecido ao cidadão. Concomitantemente, a construção de ciclovias em toda a malha rodoviária deve ser iniciada, a partir de capital estatal e privado, com o objetivo de criar outra opção de transporte acessível. Em cenário de crise econômica, em que o corte de verbas é constante, deve-se, no mínimo, flexibilizar os horários do trabalhador, para que esse seja menos prejudicado pelo sistema.