Título da redação:

Entre o riso e o preconceito

Tema de redação: A “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia

Redação enviada em 26/10/2017

Os famosos “bobos da corte” da Idade Média foram uns dos primeiros humoristas da História. Como os atuais comediantes, possuíam o objetivo de gerar o riso de sua platéia. Entretanto, hoje, o humor possui limites e, muitas vezes, o ultrapassa, propagando discursos de ódio e preconceitos, os quais desrespeitam, principalmente, as minorias. Nesse sentido, a Constituição assegura a esses comediantes o direito à liberdade de expressão, contanto que quando a exerçam não se utilizem de maneira pejorativa de grupos sociais e violem tantos outros direitos. Por isso, é importante analisar tais limites e seus reflexos para a sociedade, encontrando formas de garantir o humor e o respeito a todos. A princípio, a existência de limites no humor acontece, principalmente, quando a piada transforma-se em ofensa. O alvo dessas ofensas são os grupos sociais já marginalizados pela sociedade como negros, mulheres, pessoas de baixa renda, homossexuais, entre outros. Para exemplificar isso, infelizmente, diversos grupos da comédia nacional como Porta dos Fundos, Pânico na TV e o comediante Rafinha Bastos utilizam-se de maneira pejorativa do humor, disseminando discursos de ódio e reafirmando diversos preconceitos com frases extremamente discriminatórias como “estuprar uma mulher feia deveria ser encarado como um favor”. Apesar da culpabilidade de alguns humoristas, não se pode esquecer que a platéia também faz parte do espetáculo e que os motivos do seu riso são o principal alvo dos comediantes. Assim, da mesma forma como dito pelo escritor Johann Goethe “nada descreve melhor o caráter dos homens do que aquilo que eles acham ridículo”, percebe-se que aquilo que gera riso nada mais é do que um reflexo do próprio pensar e dos valores da sociedade. Além do uso pejorativo do humor, o direito à liberdade de expressão deve ser analisado junto aos outros direitos existentes. Nesse sentido, quando as piadas ultrapassam os limites do humor, elas acabam por denegrir a imagem de outros indivíduos e ferir os seus direitos. Como dito pelo professor de direito da UFRGS Ben-Hur Rava, “isso seria valer-se da liberdade de expressão para atingir objetivos desvirtuados”, descaracterizando o real propósito de sua existência que é de garantir a democracia. Dessa forma, assegurar a liberdade de expressão não pode ser considerado como sinônimo do uso indiscriminado da linguagem, mas sim como um meio para proporcionar a igualdade. Torna-se evidente, portanto, que existem limites para o humor que, se observados, não ferem o direito à liberdade de expressão e possibilitam o respeito a todos os grupos sociais. A fim de proporcionar esse respeito, as instituições de ensino devem, por meio das disciplinas de artes e sociologia, realizar oficinas de teatro e eventos plurissignificativos que incentivem o humor sem inserir o preconceito. Além disso, a Mídia não deve disponibilizar conteúdos de comédia que firam os diretos humanos e deve, junto a isso, colocar nas redes online, na TV e na Rádio, anúncios que falem sobre essas violações com o intuito de conter a disseminação de diversos preconceitos. Por último, os humoristas e a produtoras de comédia devem realizar parceiras com as ONGs de Direitos Humanos ou com os representantes de movimentos sociais, como do movimento negro, do LGBT, do Feminista, entre outros, que visem à criação de apresentações e piadas que vão ao encontro do respeito, da igualdade e da tolerância. Desse modo, talvez, a risada poderá se tornar coletiva e não apenas direcionada para entreter alguns grupos sociais.