De maneira paradoxal, o crescimento da economia brasileira na última década potencializou o fenômeno da segregação social no país. O surgimento da nova classe média, aliado à rejeição ao conceito de integração total por parte da elite econômica do país constituem o cerne dessa questão. A separação espacial entre ricos e pobres é um problema comum em grandes centros urbanos. Todavia, a conjuntura atual no Brasil é acentuada pelo próprio comportamento da classe mais abastada, que ao se deparar com a presença de pobres em lugares que antes lhes eram exclusivos, procura criar novos ambientes e cenários nos quais o antigo sentimento de seletividade possa ressurgir. Não obstante, tal postura acaba por fomentar os índices da violência urbana, que por sua vez é consequência direta do contraste entre as vidas que levam ricos e pobres – os patrícios e plebeus da contemporaneidade –. Assim, este isolamento social é ainda mais reforçado, dando força então a esse ciclo, de tal maneira que o investimento em políticas de combate à violência constitui uma importante atitude a ser tomada. Em acréscimo, a polarização de classes também leva ao conflito de interesses políticos entre estas. Se por um lado o interesse das classes populares é a ascensão social e a garantia de direitos fundamentais como saúde e educação, entre as elites figura o desejo de uma sutil alteração do status quo: para esta classe, a utopia é uma sociedade na qual eles possam “ser ricos em paz”, como foram outrora. Diante desse contexto e do fato de que toda e qualquer mudança social tem seu fundamento em uma sólida estrutura educacional, o primeiro passo para a “descamarotização” da sociedade brasileira é o investimento na equiparação das escolas públicas e privadas, de maneira que desde sua tenra infância, o brasileiro, de qualquer classe, entenda que numa democracia, a segregação é uma doença social.