Além de ser um insensato eufemismo, a "camarotização" tenta disfarçar o abismo entre grupos desiguais economicamente. Essa segregação reflete na sociedade de forma impactante e opressora, preservando, como sempre, os privilégios e a dominação das classes favorecidas. Não bastasse isso, a democracia- recentemente implantada no Brasil- já tem seus dias contados. Se o país assim continuar, em breve a desigualdade unirá o povo em torno de uma guerra pela sobrevivência. Seja em estádios esportivos, seja em escolas, a privatização dos espaços garante a exclusão do convívio e do aprendizado entre pessoas diferentes. A cultura é fortemente atingida por esse golpe, uma vez que o bem comum dá lugar a fronteiras socioespaciais. Os propósitos, as preocupações e os costumes deixam de interagir e, dessa forma, descaracteriza- se o conceito de sociedade. A educação pública e a particular representam bem esse fenômeno. Os efeitos de "camarotizar" estão exemplificados nos resultados do ENEM, demostrando que as maiores notas são de alunos de escolas com estratificação nos níveis socioeconômicos. Isso indica que a separação das crianças colabora para a má distribuição de ensino de qualidade, fazendo da "pátria educadora" uma péssima "mãe". O sistema democrático é o alvo principal. Com essa separações absurdas os direitos fundamentais para se ter uma vida digna só são, de fato, assegurados à minoria da população. No Brasil, essa vergonhosa diferença faz os hospitais municipais e estaduais se transformarem em um símbolo da pobreza e o saneamento básico ser instalado somente nos centros políticos e econômicos da república, deixando milhares de brasileiros sem assistência governamental. Logo, o resultado de tudo isso será evidenciado quando ricos e pobres lutarem juntos para extinguir uns aos outros, como se espécies distintas disputassem um habitat. É indubitável, portanto, que a cisão definitiva dos brasileiros é iminente. Faz-se necessário uma reforma no sistema educacional para disponibilizar reais oportunidade a todas as crianças e jovens do país. É importante, também, romper as barreiras da ignorância e do preconceito para acabar com as distinções sociais e econômicas. Através de tudo isso, a identidade nacional será reafirmada e a democracia tornará o "bem comum" uma possibilidade mais próxima da realidade.