Título da redação:

A “camarotização” da democracia.

Tema de redação: A “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia

Redação enviada em 17/04/2015

No processo de desenvolvimento brasileiro, o crescimento econômico tem gerado condições extremas de desigualdades espaciais e sociais, malgrado os notáveis avanços da última década. Sendo assim, a segregação das classes e a democracia estão intimamente ligadas, pois a disparidade econômica se reflete principalmente nos índices de qualidade de vida da população e, consequentemente, na produtividade do país. Portanto, exigir do Estado o cumprimento das diretrizes básicas em prol da coletividade representa o cerne da questão. Sob esse enfoque, as cidades não cumprem, a contento, o papel de núcleos da democracia, da integração e da cooperação social, porquanto a individualização é ratificada na forma de administrá-las. Por exemplo, problemas são tratados como localizados e não como do município, pois os indivíduos são assistidos a partir da região em que vivem e do poder aquisitivo que possuem, e os esforços que o governo faz para sanar algum problema, frequentemente, demandam um empenho dos grupos que o sofrem. Dessa forma, o resultado é o utilitarismo dos administradores, que tendem a tratar a resolução de problemas como benefícios concedidos. Ou seja, mascara-se a obrigação com um viés de concessão. Como consequência de tais fatores, os direitos básicos de uma significativa parte da população ficam comprometidos. Por exemplo, o Brasil ocupa a 79ª posição mundial no Índice de Desenvolvimento Humano, ainda aquém do ideal, e apenas 38% das residências brasileiras recebem algum tipo de tratamento de esgoto. Além disso, a carência estrutural do ensino público básico tem uma relação direta com os déficits de produtividade da população. De acordo com o estudo Curva do Aprendizado, realizado pela ‘The Economist Intellingence Unit’, o Brasil aparece na 38ª posição entre 40 países analisados no quesito educação. Destarte, milhares de indivíduos entram no mercado de trabalho com dificuldade para realizar tarefas simples como a leitura e a compreensão de um texto. Portanto, a deterioração dos serviços públicos e, consequentemente, a segregação espacial e social, causam o aprofundamento das desigualdades, ferindo os preceitos do Estado Democrático de Direito. Em síntese, a incompetência de gestão é causa determinante de tais mazelas sociais. Sendo assim, é dever do governo garantir a legitimidade da Constituição Cidadã de 1988, por meio de efetiva fiscalização e punição nos casos de improbidade administrativa. Desse modo, a reformulação das instituições de controle municipal, estadual e federal, por intermédio da diminuição da burocracia, da agilidade no sistema jurídico e da qualificação na prestação dos serviços, resultará em uma ‘’máquina pública’’ mais eficiente. Ademais, é papel do cidadão cobrar atitudes coesas dos órgãos governamentais, porque a democracia se amplia mediante a mudança de atitude e a conscientização dos indivíduos. Sobretudo, espaços de sincretismos entre as camadas sociais devem ser restabelecidos e valorizados. Portanto, assim como na Biologia, em que o mutualismo é a relação harmônica na qual um necessita do outro para sobreviver, soluções coletivas e sustentáveis em detrimento das opções individuais norteiam um caminho mais sapiente para a consecução de um país, de fato, mais próspero.