Desde a transição do meio natural para o meio técnico-científico com o advento da Revolução Industrial, conforme classificação de Milton Santos, a busca pelo aumento da produtividade e do lucro tornou-se prioridade, e as próprias pessoas passaram a ser vistas como mercadorias. Na sociedade atual, um dos efeitos dessa mentalidade capitalista é a tendência à patologização de indivíduos saudáveis, principalmente no que tange às doenças mentais, mais especificamente o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). No Brasil, cerca de dois milhões de novos casos de TDAH são diagnosticados todos os anos. O descuido dos profissionais e a falta de uma investigação mais profunda, o que demandaria tempo e dinheiro, tem levado muitos pacientes saudáveis a serem diagnosticados com a doença, sendo sacrificada a qualidade e a confiabilidade no sistema de saúde em troca do aumento da produtividade, ao atender mais pacientes em menos tempo e seguindo o caminho mais fácil de prescrever um remédio que o paciente não precisa. Com o abusivo consumo de medicamentos, quem lucra é a indústria farmacêutica, que diariamente vende milhares de caixas de medicamentos como Ritalina para pais e mães que confiaram no diagnóstico equivocado de um psiquiatra infantil e agora fazem seus filhos tomarem medicamentos desnecessários. O TDAH é um distúrbio com implicações químicas no cérebro. Uma criança desinteressada na aula e que conversa muito pode simplesmente estar apresentando o comportamento normal dessa faixa etária, sendo necessária análise cuidadosa e profunda para diagnosticar a criança com o distúrbio. É nesse sentido que deve ser investido na qualificação dos profissionais de saúde mental, incluindo nas grades de aulas matérias que envolvam a valorização do ser humano acima do lucro, bem como promover conscientização da sociedade e dos profissionais de saúde por meio de cartazes em postos de saúde e escolas que alertem acerca dos efeitos colaterais e dos efeitos a longo prazo de medicamentos para tratar o TDAH, para evitar que sejam administrados em pessoas que não precisam deles, e assim construir uma sociedade menos dependente de remédios.